O Chile está se posicionando como um líder em energia renovável, particularmente no que diz respeito à energia solar e ao hidrogênio verde. Com sua localização privilegiada no Deserto do Atacama, o país possui condições ideais para experimentar e implementar tecnologias inovadoras que visam transformar sua matriz energética. Neste artigo, exploraremos como o Chile está utilizando sal fundido para armazenar energia e como isso pode mudar o cenário global de energia.
O Potencial do Sal Fundido na Armazenagem de Energia
A central de Cerro Dominador, localizada no Deserto do Atacama, é um exemplo notável de como o Chile está inovando no setor de energia. Com 10.600 espelhos, a central concentra a radiação solar em uma torre, onde o calor gerado aquece sal fundido a temperaturas superiores a 500º C. Este sal é crucial para armazenar energia, permitindo que as turbinas gerem eletricidade mesmo quando não há sol.
Essa tecnologia de armazenamento é uma resposta direta a um dos maiores desafios enfrentados pelas energias renováveis: a intermitência. O sal fundido permite que a energia seja armazenada por longos períodos, garantindo uma fonte contínua e controlável de eletricidade. Isso é especialmente importante para equilibrar a imprevisibilidade da natureza e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, como o gás e o carvão.
Inovações na Pesquisa e Desenvolvimento
Na Universidade de Antofagasta, pesquisadores estão dedicados a otimizar a fórmula do sal utilizado para armazenamento. Atualmente, uma mistura de nitrato de sódio e nitrato de potássio é empregada, conhecida como “sal solar”. Esta mistura é particularmente eficaz para reter calor, permitindo que a central opere 24 horas por dia, mesmo em dias nublados.
O sal fundido pode ser armazenado em tanques bem isolados, mantendo sua temperatura por semanas ou até meses. A expectativa é que uma bateria térmica utilizando essa tecnologia possa ser reutilizada por cerca de 30 anos. No entanto, o uso de sais corrosivos representa um desafio significativo, exigindo pesquisa adicional para desenvolver materiais que resistam a essas condições.
Hidrogênio Verde: O Futuro da Energia
Uma das aplicações mais promissoras do armazenamento de energia com sal fundido é a produção de hidrogênio verde. O hidrogênio, considerado a energia do futuro, pode ser produzido de maneira lucrativa em grandes quantidades, especialmente para atender à demanda da União Europeia, que planeja importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até 2030.
O Chile está investindo em um contêiner móvel que é a única fábrica de hidrogênio verde do mundo. Este contêiner está percorrendo o deserto para identificar as melhores áreas para a construção de grandes fábricas de hidrogênio. O objetivo é criar um mapa que identifique zonas com alta eficiência para a produção de hidrogênio verde e onde a geração de eletricidade é particularmente eficiente.
Desafios e Oportunidades
Apesar do potencial, o consumo de hidrogênio para separar água em oxigênio e hidrogênio consome uma quantidade significativa de energia. Fatores como pressão barométrica, temperatura e condições climáticas afetam a eficiência desse processo. Atualmente, grande parte da eletricidade no Chile ainda é proveniente de usinas de carvão, mas o objetivo é que, no futuro, essas usinas funcionem sem combustíveis fósseis.
No norte de Antofagasta, uma instalação de sal fundido está em fase de planejamento. Este projeto é um modelo para usinas termelétricas a carvão em todo o mundo, permitindo a reutilização de várias instalações existentes, como salas de controle, turbinas e geradores. A conversão para sal fundido pode desencadear uma revolução global na energia verde.
Impacto Global e a Rede Elétrica
Se essa tecnologia se mostrar eficaz, o potencial é enorme. Teoricamente, qualquer usina termelétrica pode ser convertida em usina de sal fundido. Além disso, o sal fundido poderia ser utilizado na Europa para compensar flutuações na energia eólica e solar. No entanto, um dos principais desafios é adaptar a rede elétrica para suportar essas energias renováveis.
No Chile, estima-se que entre 10 a 20% da energia renovável produzida se perca devido à falta de capacidade da rede de transmissão. Isso é resultado de uma gestão inadequada da rede e de investimentos insuficientes. Embora as condições do Chile não possam ser replicadas em todo o mundo, as inovações e ideias testadas no país podem gerar conhecimento científico e soluções técnicas que terão um impacto significativo além da América do Sul.
Conclusão
O Chile está na vanguarda da transição energética, utilizando sal fundido e hidrogênio verde para se tornar uma potência em energia renovável. Com investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o país está não apenas se preparando para atender à demanda interna, mas também se posicionando como um fornecedor global de energia limpa. À medida que o mundo busca alternativas aos combustíveis fósseis, as inovações chilenas podem se tornar um modelo para outras nações, mostrando que é possível transformar desafios em oportunidades.